Crônicas publicadas no jornal ilheense Foco Regional

Entendendo a Casa dos Artistas (31/03/07)

Conversei com Romualdo Lisboa, diretor da Casa dos Artistas, sobre a crise econômica que a Casa vem enfrentando e conclui que mais ilheenses, através dessa coluna, merecem saber algo mais sobre esse importante local de difusão da cultura regional.
A essência do texto abaixo é de autoria do próprio Romualdo, no entanto, foi adaptado para essa coluna a partir de alguns encontros que tivemos.
No mês de janeiro, o setor cultural de Ilhéus foi marcado pelo fechamento da Casa dos Artistas por oito dias. Durante esse período, através de manifestações públicas pudemos perceber o quanto as pessoas desconhecem a natureza desse local. A Casa dos Artistas é um local particular, ou seja, não pertence à Prefeitura Municipal de Ilhéus, é um estabelecimento que surgiu a partir da iniciativa do mecenas Hans Koella, um suíço que adquiriu o imóvel (construído pelo Cel. Domingos Adami de Sá em 1890) e transformou-o num espaço cultural. Ela é administrada pelo TPI - Teatro Popular de Ilhéus, uma ONG que programa e divulga o seu funcionamento.
Precisa ficar claro que a Casa dos Artistas foi fechada, entre os dias 22 e 30 de janeiro, pelo TPI e não pela prefeitura. A Casa é mantida através de parcerias que o TPI faz com outras ONGs, poder público, iniciativa privada e com a dinamização da Galeria Hans Koella, isto é, através da venda de obras, expostas gratuitamente, e de ingressos para as peças apresentadas no Teatro Pedro Mattos, uma das salas da Casa dos Artistas. Do montante arrecadado, cerca de vinte e cinco por cento é destinado à Casa dos Artistas e, a maior parte, aos expositores e aos integrantes da companhia teatral.
Atualmente a Casa dos Artistas tem sua manutenção garantida através de um convênio de cooperação entre o TPI e a Secretaria de Governo Municipal. Esses recursos são utilizados para o pagamento de funcionários, água, luz, telefone, aquisição e manutenção de equipamentos e materiais de consumo.
O funcionamento da Casa está estruturado em sete linhas de ação direcionadas por um colegiado formado por técnicos, artistas e diretores dos quatro grupos residentes, que são: Teatro Popular de Ilhéus, Improviso Nordestino e Cia., A-Rrisca de Dança e Boi da Cara Preta, companhia de teatro infantil recém-criada pelo TPI. As linhas de ação são as seguintes: Apresentação de espetáculos; Intercâmbio com cidades vizinhas; Intercâmbio com bairros e distritos; Intercâmbio com grupos e artistas; Dinamização da Galeria Hans Koella; Formação de profissionais e Pesquisa e memória cultural. Essas diretrizes se configuram numa política de planejamento de etapas que permite intervenções eficazes nos processos de criação, desenvolvimento, documentação e formação teatral. O colegiado se reúne a cada quinze dias para avaliar os resultados.
A política institucional do TPI tem como objetivo defender, retomar, promover a cultura popular preservando os elementos essenciais da identidade cultural grapiúna e produzir espetáculos e manifestações artísticas ligadas à música, artes cênicas e plásticas.
É necessário esclarecer que as manifestações de janeiro aconteceram em função da total falta de recursos para manter a Casa em funcionamento. Os funcionários já não recebiam seus salários há nove meses e a situação com alguns fornecedores encontrava-se insustentável. A falta de pagamento se dava em função de a Secretaria de Finanças sempre propor o repasse do convênio para depois do dia dez, ou seja, depois do pagamento dos funcionários da prefeitura. Como todo mês tem dia dez, o drama da Casa já atravessava o nono mês. Felizmente, o novo presidente da FCI, Fundação Cultural de Ilhéus, Arléo Barbosa, compreendeu as manifestações, interveio e permitiu um entendimento entre as partes. A Secretaria de Finanças prometeu saldar sua dívida efetuando pagamentos em parcelas, além de manter o repasse mensal. Assim, o Teatro Popular de Ilhéus reabriu a Casa dos Artistas. É preciso que se compreenda a cultura como atividade econômica, geradora de empregos e de rendas. Os comerciantes que fornecem produtos e serviços à Casa dos Artistas, que são poucos, sabem muito bem disso. Atualmente o Teatro Popular de Ilhéus discute com a Associação Comercial de Ilhéus, CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas, APPI - Associação dos Professores Profissionais de Ilhéus, e ATIL - Associação de Turismo de Ilhéus, mecanismos de apoio dessas entidades para que a manutenção da Casa não dependa essencialmente do Governo Municipal.
Por fim, convido você a visitar a Casa dos Artistas, à Rua Jorge Amado, 39, no centro de Ilhéus. Venha prestigiar a arte visitando as exposições de artistas regionais e assistindo aos espetáculos que estão em cartaz semanalmente.
Mais informações através do telefone (73) 3634-5818 ou do endereço eletrônico: tpilheus@hotmail.com.